Dos Regimes Politicos

Existem vários traços da cultura Humana que muitos defenderiam como “aquilo que nos torna Humanos” e nos distingue dos outros animais. Quanto a mim, um desses traços é a Politica. Os humanos são os animais políticos. Sim, outras especies têm hierarquias de comando e falamos facilmente no “rei leão” e no “macho alfa”. Contudo isso nada mais é que um jogo de força física. Quem conseguir matar fisicamente o outro, ganha o lugar dele. Algumas especies têm até formas – que chamaríamos de – civilizadas , de resolver conflitos mas estas formas passam sempre pela demonstração de força física. Em certas ocasiões alguns destes protocolos envolvem a escolha da fêmea que serve assim com um juiz para terminar a rinha sem necessidade de morte. Mais civilizado, mas a fêmea tentará fazer a melhor escolha e portanto a força acaba tendo um papel preponderante.

No mundo dos Humanos não foi muito diferente. A organização de uma tribo na África , América  ou Oceania nos mostram que independentemente da geologia, os costumes e organizações são os mesmos. Mas em vez de vermos um animal lutar com outro , vemos vários animais lutando contra outros de forma organização e síncrona : a gerra. E da mesma forma de no mundo animal, novos protocolos foram sendo estabelecidos até que chegamos num padrão que se escolheu designar “de governo” e com isso nasce o Regime Politico. O Regime Politico engloba todas as práticas e costumes de uma coletividade que guia seus atos, direitos e deveres.

Um dos regimes mais simples é a Monarquia (mono – só um, arquos-chefe). A monarquia nasce quando existe um único chefe supremo da coletividade daqueles quantos humanos que pode ser uma tribo, uma cidade, uma pais, etc.. A monarquia é caracterizada, simplesmente, pela existência de um único governante que se designa : rei. Duas perguntas se colocam: a) qual é a legitimidade do rei e b) o que acontece quando o rei morre. As respostas estão normalmente relacionadas uma à outra e são elas que ditam o tipo de monarquia em questão. Portanto, dizer que o pais, ou a sociedade Y segue um regime Monárquico é dizer coisa nenhuma além de dizer que só existe um chefe, um governante; ora o mundo e História estão cheios de regimes com um só governante, portante temos que ser mais explícitos.

A legitimidade sempre vem – na boa da verdade – da aceitação da coletividade. Se a coletividade não aceita a pessoa como rei, o rei será deposto. Alguns reis acharam na história que a legitimidade era divina ( outorgada por um deus ou deuses). O que acontece quando o rei morre ? Em alguns sistema o rei é eleito por um colegiado e em alguns sistemas a legitimidade passa automaticamente ao filho mais velho do rei que morreu. O mecanismo colegiado é/era usado em tribos e é usado por exemplo pelo Vaticano até hoje. O mecanismo hereditário, mais comum, foi usando em várias dinastias no mundo e é usando até hoje.

Mas qual é a origem esta legitimidade ? Num modelo colegiado é simples consenso, mas para o modelo heriditário é difícil justificar porque a legitimidade tem que passar ao filho mais velho. Porque não ao mais novo ? Porque não a qualquer outro membro da família ? Porque têm que ser na família ?  E a boa da verdade é que para estas perguntas não ha resposta satisfatória.

A História, então, nos ensina que dois caminho podem ser tomados para melhorar a lógica por detrás do sistema de um único chefe. A primeira, mais simples do ponto de vista lógico, é aquilo que se conhece como Constitucionalismo. A corrente filosófica que parte da ideia de um conjunto de regras – a constituição – com que todos os elementos da coletividade concordam. É esta concordância, este consenso, que legitima aquele a documento a ter força de vinculo e tudo o que está contido nele , é portanto, legítimo por definição.

Portanto, as sociedades entenderam em certo ponto que criar uma constituição era a única forma realista de legitimar um rei. Agora não se trata mais de se o rei tem legitimidade – ele a tem por definição – mas como ela é continuada no tempo. Se a constituição afirma que será pela forma hereditária, assim o será. Este modelo é usado em muitas monarquias modernas, como a Espanha. Este modelo é o de uma Monarquia Constitucional Hereditária.  O modelo do Vaticano, por exemplo, onde um documento chamado de Cânone (que tem a mesma força que uma constituição) define que na morte de rei ( o Papa) um novo será eleito por um colegiado conforme certas regras tem um modelo ligeiramente diferente : o modelo da Monarquia Constitucional Colegiada.  O modelo seguido por tribos e países sem constituição pode ser um modelo de Monarquia Hereditária ou de Monarquia Colegiada.

Durante esta analise vimos apenas a monarquia sob o aspecto daquilo que dá poder ao rei. Mas que poder é realmente dado ao rei ? Todo ? Algum ? Qual ?

Em um sistema onde o rei tem todo o poder e nenhum é delegado, estamos sob um modelo Absolutista, pois o poder do rei é total. Mesmo que legitimado por uma constituição. Contudo, este modelo veio perdendo força ao longo do tempo porque – na realidade última- não serve aos interesses de todos.

O modelo dos três poderes foi uma ideia que veio ganhando força e que por fim se instituiu nos modelos atuais. Aqui o rei tem apenas alguns poderes enumerados pela constituição e dois outros corpos têm o resto dos poderes. O corpo judiciário  – ou Poder Judiciário – tem o poder relativo à resolução de disputas dos membros da sociedade entre si tendo um sistema de Juizes por base. Este sistema pode ou não ser baseado em leis predefinidas ou apenas em jusrisprudência ou numa mistura das duas coisas. O outro corpo , o corpo legislativo – ou Poder Legislativo – mantém o poder de criar e revogar leis. Estas leis têm duas principais categorias – as que são feitas para a sociedade – e que são a base em que o Judiciário trabalha – e aquelas que são feitas para o rei: como a definição de impostos e tributos. O rei ocupa o terceiro poder – o Executivo.  O executivo têm todo o poder estratégico tanto militar (em tempo de guerra) quando econômico, social, educational, etc… Embora , na boa verdade, o legislativo é que têm o poder de tomar um rumo, e o executivo deve levar esse conceito a bom porto, na prática o legislativo espera pelas ideias do executivo.No modelo parlamentarista o rei não deter o poder executivo, apenas o poder de estado e o executivo nada mais é um sub-conjunto do legislativo com poderes especiais. Abordarei isto com mais detalhe em outra ocasião.

O modelo de três poderes não representa uma democracia. Isto é importante ter em mente. significa apenas que mais pessoas estão envolvidas além do rei e que ha uma tentativa de isolar os poderes de forma que não haja vantagem de nenhum sobre o outro. Em sociedades antigas a separação dos poderes já existia em outras formas. Normalmente na forma do concelho de anciões. No passado sobreviver mais de 30 anos era um feito. E pessoas com mais de 40 anos eram anciões. Sua experiencia era importante e seu conselho ouvido e respeitado. Estes concelhos eram legislativos e judiciários , mas na realidade esta nomenclatura é fraca para traduzir o seu poder. O poder destes conselhos é aquele que se hoje chama de Poder Constituinte. Este é o poder que pode modificar a constituição (seja escrita ou verbal)  e portanto o conceito daquilo que é legitimo e o que não é. O modelo de três poderes original falha em tratar este ponto pois foi um modelo originalmente desenhado para servir em uma monarquia sem constituição.

Com a criação de novos corpos de governos nasce uma novo conceito de governo: a aristocracia ( aristhos – alguns + kratos – poder). O governo não era mais o poder de um, mas o poder somado de alguns. Quando  ha mais que um é necessário haver conversas e discussões. Palavras precisam ser trocadas e um lugar para isso acontecer de forma organizada é necessário : o Parlamento. (de Parla – fala, conversa, discussão). Na Inglaterra, por exemplo, a Monarquia Hereditária evolui para uma Monarquia Constituicional Heriditária Parlamentar e outros países se seguiram e hoje é um modelo largamente usado.  Repare que em ponto algum estes modelos definem uma democracia (não ha voto de todos, e muitas vezes nem ha conceito de voto) , mas todos os modelos onde existe um parlamento, existe, por definição uma aristocracia. Afinal, um parlamento é lugar no espaço e portanto limitado fisicamente a quantas pessoas podem ouvir e falar.

Não se iluda aquele que pensar que na Grécia antiga dos grandes filósofos o modelo não era aristocrático. O parlamento era o lugar da conversas de vários , mas não de todos. Apenas algumas podiam falar no parlamento. Não eram permitidas crianças, mulheres , prisioneiros, escravos ou qualquer um os que trabalhavam para outrem, estrangeiros (pessoas que não tivessem residencia na cidade) ou sem recursos (um patamar minimo de riqueza era exigido). Portanto, no fim, quem poderia realmente participar era homens livres adultos com posses ou negócios que fornecessem recursos que se auto-denominavam: cidadãos – aqueles da cidade.  Portanto, o parlamento grego era mais semelhante a uma junta comercial do que a uma corpo politico no sentido moderno. E embora os gregos cunhassem o termo “democracia” (demo – povo + kratos – poder) para significar o governo do povo, eles tinham uma definição bastante limitada do que “povo” significava. Não é o mesmo conceito de “povo” usado hoje.  Este modelo, no entretanto tinha algumas  propriedades únicas fundamentais que ninguém parece lembrar : não havia chefe e a posse de terras e/ou negócios (ou seja, capacidade de produzir riqueza) era fundamental

Um modelo de governo onde não ha chefe é chamado de : anarquia (que significa literalmente “sem chefe”). Um modelo de governo onde a riqueza traz legitimidade é uma plutocracia (ploutos – riqueza + kratos: poder). Portanto a democracia grega seria mais próxima de uma Anarquia Plutocrática Parlamentar do que do conceito “idealizado” de um parlamentoem que todos falam , ouvem , discutem e decidem.

A Anarquia Plutocrática Parlamentar  dos gregos foi modelo para muitos ao longo do tempo. Outros acontecimentos históricos ao longo dos seculos mudaram o conceito de quem é aceite neste parlamento do “povo”. A escravatura foi abolida, as mulheres entraram na vida publica e politica mas ainda excluímos as crianças (os não adultos), prisioneiros e estrangeiros. No mundo moderno o “povo” é na realidade o conjunto de Cidadãos Eleitores. Para uma pessoa poder  ser considerada Cidadã ela precisa ter nascido no país (ser nativo) ou residir no país de tal forma que o país reconheça a ela o mesmo direito que uma pessoa nativa. Para ser eleitor, ela precisa não ser uma criança (ter mais de uma certa idade – normalmente 18 ou 21 anos) e não ser um prisioneiro.

O Voto

A Anarquia Plutocrática Parlamentar grega, ao não ter um chefe e portanto não ter um decisor , precisava de mecanismos de decisão que funcionem em grupos de pessoas. A votação foi o eleito porque é simples do ponto de vista logístico. Um sim ou não basta. Ganha a posição com mais votos. Cada cidadão tem direito a um voto e portanto a pender a balança na direção que mais acha correta. Repare que este conceito de “Um cidadão um voto” significa coisas bem diferentes hoje do que significava no parlamento grego antigo. Naquele tempo o voto era na decisão do assunto em pauta. Hoje é um voto em um representante. Não é bem a mesma coisa. Não tem o mesmo poder politico.

Os políticos e filósofos ao longo do tempo viram no voto uma forma de cada um participar e ter um mecanismo que permitia decidir.  O mecanismo de voto é – em ultima analise – o objetivo máximo de um parlamento. O processo básico é : ha uma decisão a ser tomada : quem é contra?  quem é a favor ? ganha a posição com mais votos, i.e. com mais gente apoiando.

A República

Quando houve a transição da monarquia constitucional um outro movimento apareceu : a republica. Mesmo com monarquias constitucionais colegiadas um último problema existia. Tudo o que o reino possuía era da propriedade do Rei. Todas as terras que os senhores tinham era em nome de as proteger e tornar produtivas para o rei e o rei tinha o poder de as remover se necessário, ou se simplesmente assim desejasse. Não ha propriedade de terrenos privada no verdadeiro sentido e não ha propriedade coletiva, propriedade pública. Para muitos isto ainda era um problema. E mesmo com uma constituição não se aceitava a ideia de que o rei seria “dono de tudo o que a vista alcança”. Nasce então o conceito de que a propriedade do pais é pública. Que existe a “coisa pública” , literalmente a res (coisa) publica.

Este foi então o ultimo prego no caixão da Monarquia. Mas realmente não foi na monarquia. Foi na figura do rei. Era o conceito de Rei que tinha que morrer e não o conceito de “um chefe”, mas nesta época o termo “monarquia” era associado fortemente ao do rei, e portanto não se poderia continuar usando esse termo. As repúblicas começaram a nascer como mecanismo de governo que tinham dois principais pilares : uma constituição -que outorga legitimidade; e um mecanismo de três poderes – que visava garantir que nenhuma pessoa única poderia novamente vir a deter todos os poderes – evitando assim a ditadura- e ao mesmo tempo tentando dificultar o abuso de um dos poderes sobre os outros. Mas todas convergiam em ter um chefe : o presidente.

Se as república ainda têm um chefe tecnicamente ainda são Monarquias. É no fim que questão de semântica que visa sublinhar que o chefe não terá legitimidade hereditária nem será dono de tudo. Estas novas repúblicas têm parlamento para o corpo legislativo e são baseadas em constituições, logo ainda são Monarquias Constitucionais Parlamentares. O que precisamos distinguir entre republica e formas antigas de monarquia é apenas a propriedade das instituições e territórios, a propriedade da coisa comum. Antes a propriedade era do Rei (um) e na República é da Nação (todos).  Isto tem consequências interessantes do ponto de vista econômico. Enquanto um recurso natural como ouro ou petróleo era do Rei em uma Monarquia é da Nação em uma Republica. E portanto, enquanto era necessário que o rei permitisse a exploração do recurso em seu nome ( e cujas riquezas dai derivadas eram suas) na republica caberia ao legislativo e ao executivo permitir a exploração e derivar riqueza.: o que está diretamente ligado ao conceito de Empresas Públicas e mais tarde à privatização dessas empresas. Este processo nada mais que tornar a coisa pública privada, processo inverso ao que a república tentou realizar na sua aurora e que ao contrariar  este principio trai a sua própria fundação. Também assunto para outro post.

Portanto, um regime como a monarquia inglesa ou espanhola que vemos como exemplos de Monarquia Constitucional Hereditária Parlamentar e o Vaticano como exemplo de Monarquia Constitucional Colegiada temos que ver a República como um exemplo de Monarquia Constitucional Colegiada Parlamentar de Propriedade Pública, onde as outras referidas seriam de Propriedade Patrimonial.

Há portanto estes aspeto a considerar em um regime: Quantidade de Chefes , Forma de Legitimidade do Chefe, Passagem da Legitimidade após a morte do Chefe, Forma de decisão e Propriedade da Coisa Comum.

Quanto à quantidade de Chefes

A anarquia como vimos é a ausência de chefes. Um único chefe -a monarquia – é a forma mais comum, mas não é a única forma. A forma com três chefes – o triunvirato – foi tentada pelo império Romano e é uma forma de mitigar o risco de que um assassinato (comum na época) levasse ao vazio politico de comando. Claro que isto acrescentava uma burcracia e uma dificultade de tomar decisões, e levava facilmente à ditadura (basta assassinar os outros dois) e foi a principal razão de porque não foi usado mais vezes. O senado é uma outra forma de aumentar a quantidade de chefes. Ela também foi explorada pelos Romanos. O Senado leva a um cenário para o executivo semelhantes ao do legislativo que é muito lento para decisões estratégias em tempo de guerra o que levou o senado romano a investir pessoas únicas como comandantes de guerra em várias situações. É preciso lembrar que o senado era na realidade um conjunto de pessoas com riqueza no mesmo padrão grego e portando uma Plutocracia.

Dois chefes é uma forma usada no mundo moderno com o conceito de Chefe de Estado e Chefe de Governo em que o chefe de estado tem poder de guerra e o de governo o poder executivo. Contudo estas formas não são equivalentes aos outros modelos que abordamos porque os chefes não chefiam a mesma coisa e têm os mesmos poderes. O número 2 parece não ser um bom número para chefes.

Resumindo

  • Zero Chefes – Anarquia
  • Um Chefe – Monarquia
  • Três Chefes – Triunvirato
  • 4 ou mais – Senado

Quanto à forma de Legitimidade

Abordamos , en passant, o conceito de que a legitimidade é sempre importa por acordo. Isto tem que ver , na realidade, com o conceito de Contrato Social. O acordo pode ser tácito ou não, mas o que importa é que eles existe. quando esta legitimidade é posta em causa e as pessoas deixam de achar o chefe legitimo uma Revolução acontecerá que irá impor uma nova legitimidade.  Contudo, embora sempre derivando do contrato social na sua essência, isso mascarado pela cultura da sociedade em outras fontes.

Vimos já a Plutocracia em que a legitimidade vem da posse de riquezas e o Constitucionalismo em que legitimidade vem de um acordo (verbal ou escrito, mas normalmente escrito). Uma outra forma de legitimidade invocada pelos chefes é a divina. Seja de um ou vários deuses esta forma é conhecida como Teocracia (teo – deus + kratos – poder) que o poder e portanto a legitimidade do uso desse poder é outorgada divinamente.

Estas formas de legitimidades não são independentes. A legitimidade pode ser Constitucionalista e mesmo assim ter sido criada pelos mais ricos (caso dos Estados Unidos da América) ou com inspiração divina (caso do Vaticano). A verdadeira legitimidades Constitucionalista advém do uso do Poder de Constituição é quem detém este poder que realmente deter a fonte do poder e da legitimidade. Em alguns governos um Tribunal Constitucional mantem uma ação de proteção ao Direito Constitucional e ao Poder de Constituição , mas na maioria este poder é dividido entre Legislativo, Executivo e Judiciário ( a inépcia do sistema de 3 poderes para descrever um sistema de poder será assunto de outro post).

Resumindo

  • Divina – Teocracia
  • Riqueza – Plutocracia
  • Constitucionalismo – Existência da Constituição – documento escrito ou verbal que legitima os poderes do Estado e das pessoas

Quanto à passagem de Legitimidade

Vimos que a passagem de pais para filho – a passagem Hereditária – foi, e ainda é, bem comum; mas a forma colegiada é a forma preferida em muitos casos. A forma Colegiada está intimamente ligada ao conceito de Voto e todas as formas baseadas em voto são formas de passagem colegiada de legitimidade (por isso que durante as eleições é importante saber o seu colégio).  Pode haver um , ou vários colégios em uma hierarquia ou a eleição pode ser direta em que os votos somados dão o resultado final. Nos Estados Unidos, por exemplo, as formas de passagem são todas Colegiadas e baseadas em voto, mas nem sempre em voto direto. Porque todas as formas colegiadas são baseadas em voto, a existência do processo de voto não torna o regime de governo uma democracia no sentido moderno do termo ( vou abordar o que realmente esse conceito é em outro post).

Resumindo ha pois duas formas principais : a passagem de legitimidade Hereditária e a Colegiada. A forma colegiada é sempre baseada em algum tipo de voto.

Quanto à forma de decisão

A forma de decisão pode ser por decisão única do chefe: Absolutismo ou por conversas entre as partes do governo: Parlamentarismo. A decisão parlamentar é baseada sempre em algum tipo de votação.

Quanto à Propriedade da Coisa Comum

A coisa comum é formada pelo local geográfico em que a coletividade se encontra. A legitimidade da propriedades de qualquer local geográfico é um outro assunto , mas assumindo que ela existe alguém tem que ser o proprietário. No caso de um Reino a propriedade é do rei. No caso de uma República é de todos os Cidadãos.  Repare que dizer que é de todos é dizer que não é de nenhum em particular. Portanto a propriedade é de realmente ninguém. A propriedade é abstractamente considerada de todos para fins jurídicos, mas significa que ninguém se pode dizer dono de uma certa propriedade sem legitimação da Republica.  É por isto que a república tem que outorgar licenças de propriedade a privados. Estas licenças são em si mesmas negociáveis entre as pessoas. Movimentos de ocupação se baseia na lei do usucapião de terrenos mas precisam que a republica legitime o seu pedido e outorgue a licença. Caso contrário o movimento estará ocupando a propriedade privada (que é protegida pela constituição) ou a propriedade pública, sobre a qual ninguém – individual ou coletivo, tem direito por definição de propriedade pública.

A Ditadura

A ditadura é um regime especial desde sempre abominado como regime aceiável, mas que na pática existe.  O regime ditatorial mais antigo é a Tirania, mas regimes mais modernos disfarçam ditaduras com regimes que parecem válidos.

Uma ditadura é como uma doença auto-imune e acontece quando o chefe vê como inimigos as próprias pessoas que legitimam o seu poder. Um ditador sabe que é sociedade que ele chefia que pode remover a sua legitimidade como chefe e ele teme isso, portanto se utiliza do seu poder e da máquina do estado e todas as ferramentas ao seu dispor , sejam militares, politicas, de propaganda ou outras  para manter o poder que tem. Repare que um chefe legitimo não precisa fazer nada disto porque a legitimidade é inerente, mas um ditador tem o momento em que sua legitimidade se estringirá. Em regimes monárquicos hereditários esta legitimidade só se extinguiria se o chefe morresse. Assim o chefe teme que o assassinem e desconfia de todos, persegue todos e usa seu poder para matar quem ele acha perigoso. Do ponto de vista do chefe ele está se protegendo de acelerarem sua perda de legitimidade. O interessante é que este tipo de paranoia causa que as pessoas realmente queiram removê-lo do poder e portanto realmente podem haver pessoas querendo isso, o que torna as coisas ainda mais reais para o ditador. A paranoia de perder o poder acaba realizando exatamente isto da mesma forma que uma doença auto-imune em que o sistema imunitário cria a causa da própria doença que visa combater.

A Tirania é uma Monarquia Hereditária em que o rei se torna o tirano, o  ditador, querendo controlar o movimento e a vida de cada pessoa no reino e isto pode ser de formas bem violentas. Em regimes mais modernos a ditadura pode ser observada sempre aliada ao poder de perseguição, à remoção ou ignorância de direitos básicos, inclusive aqueles legitimados na constituição que o chefe, agora ditador, jurou no dia da sua tomada de posse proteger.

O regime ditatorial é unanimemente visto como a degeneração de um regime politico qualquer que ele seja. Esta degeneração deve ser evitada e por isso mecanismos como a separação de poderes e o próprio conceito de constituição foram criados. Tudo na tentativa de mitigar o risco do sistema ser aproveitado por um e virar uma ditadura.

Alguém vira ditador por deposição do anterior chefe criando um novo regime com esse ato (Golpe de Estado) ou através dos mecanismo em vigor no país (Infiltração). Neste ultimo caso, o ditador passa por vários processos do regime até que assume uma posição que lhe permite começar a atuar como ditador. A transição pode até ser subtil. No caso de infiltração o ditador tende a manter tudo como estava, pelo menos aparentemente. A propriedade da coisa comum e transferência de legitimidade permanecem normalmente intocadas e a legitimidade é a mesma que existia.

Conclusão

Existem diferentes regimes políticos que nascem da combinação de alguns simples fatores. Em diferentes paises, culturas e regiões os regimes tendem a ser apenas permutações das possibilidades destes fatores.  Nenhum regime atual ou futuro pode ser chamado de algum diferente de Monarquia sendo que todos os regimes atuais têm apenas um chefe : Ditadura ( o ditador), República (o presidente ou primeiro-ministro) e a monarquia ( o rei). Atualmente também todos os regimes contêm alguma corpo ( ou mais que um) de pessoas além do chefe e são são portanto regimes aristocratas.

É comum ouvirmos falar em “Democracia” , mas o que é isso afinal ?  Não e a democracia dos gregos, pois como vimos estava muito longe de permitir a opinião de todos.  Na maior parte das vezes a palavra “democracia” quer significar apenas “através do voto do povo”, mas é facilmente abusada para significar a presença de conceitos como liberdade.  Sendo que o voto serve para escolher a aristocracia e o chefe, e não para decidir e pesar nos assuntos do pais, não é verdadeiramente um mecanismo de expressão de vontade , apenas de seleção entre opções. O fato de ser o povo a votar – que como vimos não engloba realmente todos – é significativo do ponto de vista da inclusão politica, mas é preciso lembrar que as votações do mundo moderno são Eleições, i.e. feitas para eleger alguém, não para decidir um assunto em pauta. Isso requer outros mecanismo como o Referendo, por exemplo.

O termo democracia , como vimos, era uma anarquia construída para decidir entre a opinião de muitos. Não para eleger um chefe ou representante que iria depois decidir sozinho. Logo, os regimes que temos ainda não podem ser chamar Democracias no verdadeiro sentido e não passam de monarquias disfarçadas em que a única diferença é a remoção da figura do rei como detentor de todos os poderes e propriedades. E nisso o seculo XX fez um ótimo trabalho. Vamos ver se o século XXI faz alguma coisa sobre o poder de decisão sair das mãos de algumas e ir para as mãos de todos.

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